Na Mídia

Presidente atacou produções com temática LGBT em live na semana passada. "Não tem cabimento fazer um filme com esse enredo né?", disse.

 

As obras audiovisuais que o presidente Jair Bolsonaro garimpou de edital da Ancine e ameaçou abortar, em live na semana passada, estão entre os finalistas da linha de “diversidade de gênero” de um edital aberto em 2018 para produções de televisão e cinema, que recentemente foi vetado pelo governo.

Em live no Facebook no dia 15 de agosto, Bolsonaro atacou a produção de obras audiovisuais com temáticas LGBT e diversidade sexual, que buscavam autorização da Ancine (Agência Nacional do Cinema) para captar recursos por meio da Lei do Audiovisual. 

O presidente afirmou que a agência não vai liberar verbas para esses projetos e disse, também, que se a Ancine “não tivesse, em sua cabeça toda, mandatos”, já teria “degolado tudo”. Bolsonaro atacou as produções AfronteTransversais, O sexo reverso eReligare queer durante sua fala.

“Fomos garimpar na Ancine filmes que estavam prontos para captar recursos no mercado. E outra, provavelmente esses filmes não têm audiência, não têm plateia, tem meia dúzia ali, mas o dinheiro é gasto. Olha o nome de alguns, são dezenas”, continuou, ao citar nominalmente as obras que concorriam ao edital.

Ao atacar as produções, Bolsonaro negou que sua ação é de censura. “Não censurei nada. Quem quiser pagar, se a iniciativa privada quiser fazer filme de Bruna Surfistinha, fique à vontade, não vamos interferir nisso daí”, disse.

AfronteTransversais, O sexo reverso eReligare queer concorrem à chamada pública “RDE/FSA PRODAV”, que visa garantir verba para a criação de produções para televisão e cinema.

Os vencedores do edital seriam financiados por meio do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). Após críticas de Bolsonaro, o governo estuda suspender o edital para que estas produções não recebam verba do setor público. 

Saiba do que se trata cada uma delas:

Transversais, de Emerson Maranhão e Allan Deberton

REPRODUÇÃO
Cena de "Aqueles Dois", curta-metragem lançado em 2016 por Emerson Maranhão.

“Um filme chama Transversais. Olha o tema: ‘Sonhos e realizações de cinco pessoas transgêneros que moram no Ceará’. Conseguimos abortar essa missão”, disse Bolsonaro em live no Facebook no dia 15 de agosto.

O projeto atacado pelo presidente é um desdobramento do curta-documentário Aqueles Dois, de Emerson Maranhão, que conta a história de dois homens transgênero e já foi selecionado para participar de festivais fora do País, como o 4º AMOR - Festival Internacional de Cine LGBT Do Chile.

Com a intenção de continuar a contar essas histórias, Transversais foi inscrito no edital na categoria “diversidade de gênero” em 2018. Em cinco episódios, Maranhão e Deberton querem contar a história de outras cinco pessoas transgênero que vivem no Ceará, assim como fizeram em Aqueles Dois.

Em nota, a Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult-CE) criticou a fala de Bolsonaro e destacou que os projetos criticados foram contemplados no edital Cultura LGBT, lançado em 2016 e  voltado para a promoção da memória, e da visibilidade das manifestações culturais e artísticas dessa temática.

“A Secult não pactua com qualquer tipo de manifestação discriminatória – venha de onde vier – que afronte contra a livre expressão artística e cultural de todos os grupos sociais, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade ou quaisquer outras formas de discriminação”, disse, ao citar a Constituição.

″Parafraseando Fernando Pessoa, toda maneira de amar e de expressão artística valem a pena quando a alma não é pequena”, finaliza a nota da Secult.

Afronte, de Bruno Victor Santos e Marcus Azevedo

REPRODUÇÃO
Cena de "Afronte", idealizado e dirigido por Bruno Victor Santos e Marcus Azevedo.

Afronte. ‘Mostrando a realidade vivida por negros homossexuais no Distrito Federal’”, continuou Bolsonaro na mesma live. “Confesso que não dá para entender. Então, mais um filme aí, que foi pro saco, aí. Não tem cabimento fazer um filme com esse enredo né?”, completou o presidente em vídeo.

Produzido por Bruno Victor Santos e Marcus Azevedo, Afronte é fruto do projeto de conclusão de curso dos produtores, que se formaram em audiovisual na Universidade de Brasília (UnB); filme tem o objetivo de contar a história e mostrar como é a rotina de pessoas LGBT no Distrito Federal.

Para fazer uma série derivada do filme, a dupla entrou com um pedido de patrocínio no edital citado por Bolsonaro. Ideia é semelhante ao que os diretores de Transversais querem fazer; projeto foi inscrito no mesmo edital.

O filme já foi exibido no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro em 2017 e ganhou o Prêmio Saruê, concedido pela equipe de cultura do jornal Correio Braziliense. À época, para a produção, equipe montou um financiamento coletivo na internet e arrecadaram R$ 10 mil para conclusão do projeto.

Em resposta às falas do presidente, a equipe do filme Afronte publicou uma carta aberta em sua página do Facebook. Segundo o texto, os projetos citados por Bolsonaro “foram tratados de maneira leviana”. 

O grupo ressalta que a Ancine “tem um papel importante na manutenção e no fomento do cinema no Brasil, e esse papel tem que ser exercido respeitando a liberdade artística e compreendendo que somos múltiplos”.

“Esse é o projeto que o Presidente está deliberadamente censurando, num total desconhecimento da forma como os editais funcionam e se excedendo ao que é de competência direta do executivo”, diz o texto.

A carta divulgada pela equipe, que também acusa Bolsonaro de censura,  disponibiliza um link com o filme, recomendando que o presidente assista. 

Religare Queer, da Válvula Produções

“O nome eu não sei pronunciar. ‘Religare Queer’”, disse Bolsonaro na live. “O filme é sobre uma ex-freira lésbica, ok? E daí, são vários episódios”, disse o presidente, ao ler papel com descrição dos filmes com temática LGBT. 

“Tem a ver com religiões tradicionalmente homofóbicas ou transfóbicas. Tudo tem a ver”, disse, ironicamente. E continuou: “Sexualidade LGBT com evangélicos, católicos, espíritas, testemunhas de Jeová, umbanda, budismo, candomblé, judaísmo, islamismo e Santo Daime.”

Projeto não tem informações disponíveis assim como os outros; mas documento aponta que é idealizado pela empresa Válvula Produções, que já produziu filmes sobre a quadrinista Laerte e a cantora Linn da Quebrada.

O Sexo Reverso, de Maurício Macêdo

“Outro filme aqui. ‘Sexo reverso’”, disse Bolsonaro. ”‘Bárbara é questionada pelos índios sobre sexo grupal, sexo oral e sobre certas posições sexuais’”, continuou o presidente. ”É o enredo do filme. Com dinheiro público. E outra, geralmente esses filmes não têm audiência. Não têm plateia. Têm meia dúzia ali. E o dinheiro é gasto. São milhões gastos”, atacou Bolsonaro.

O projeto é Idealizado a partir da pesquisa da antropóloga Bárbara Arisi, que é professora da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA). Ela tem um trabalho junto à tribo dos Matis, no Amazonas e participou de uma pesquisa dos próprios indígenas sobre práticas sexuais dos brancos.

Fonte: https://www.huffpostbrasil.com

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