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Preocupados com medidas que colocam em risco a qualidade de ensino, vendo argumentos governamentais maquiados de redução do número de alunos com fins de transferir professores para muitos quilômetros distante de onde sempre lecionaram e sobretudo frente a cortes de orçamento para a educação, estudantes decidiram ocupar as escolas desde novembro. Portões fechados, assembléias para decidir estratégias e manifestações de rua.

Brasil, São Paulo? Não, Italia.

Para atender metas de estabilidade impostas pela Comunidade Europeia, o governo italiano tomou medidas que implicarão em 350 milhões de euros a menos para a educação no período 2015/2016. Tudo começou em setembro quando dirigentes estudantis deram o alerta para o risco de declínio nas condições de trabalho que já consideram inaceitáveis. Alunos também se revoltaram. Uma escola foi ocupada e logo as demais tomaram o exemplo. Liceu Científico Cannizzaro, o Liceu Clássico Garibaldi, o Garbatella, o Liceu Virgilio. Logo espalhou. Diferentemente do episódio brasileiro, em solo italiano as ocupações não estão restritas a um único estado. Além de Roma há escolas ocupadas também em Palermo, Napoli, Catania e Firenze.

Os porta-vozes do instituto Rutelli informaram: “Já estamos planejando um calendário de seminários para manter a ocupação ativa, não porque queremos esticar nossas férias, mas para nós a prática de ocupar é útil porque os alunos se tornam verdadeiros protagonistas da gestão da sua escola.”

Os estudantes exigem a retirada imediata dos cortes nos termos da Lei da Estabilidade e o retorno do plano de trabalho escolar dos professores e dirigentes estudantis.

“Em média, uma família gasta 1.525 euros para suportar os custos de uma criança matriculada em uma escola secundária. Os universitários italianos estão entre os que pagam os impostos mais altos na Europa e o direito de estudo envolve apenas 8% dos estudantes, uma quota insignificante. Os alunos são confrontados com um sistema que faz todo o possível para mantê-los fora das universidades, e as matrículas em declínio (-4% no ano passado) são a prova”, relata o manifesto estudantil.

“Nós pensamos que a única solução para tornar a escola verdadeiramente pública e acessível a todos é investir o dinheiro público em nosso sistema de ensino. Queremos estudar em estruturas normalizadas sem a qual ninguém é excluído por razões econômicas ou culturais, queremos viver nossas instituições mais do que as 6 horas de aulas por dia, tornando os lugares de participação e de agregação para a nossa geração”, dizem os italianos que reivindicam ainda o direito de freqüentar uma escola “de ambiente seguro, público, gratuito e realmente acessível a todos.”

escola-italiana

Quando se referem a todos, são todos mesmo. Os acontecimentos em Paris também são citados pelos estudantes que desejam uma igualdade de tratamento para refugiados e lançaram a campanha “#paratodos, privilégios para ninguém” depois dos ataques terroristas. “Em face do terror e do ódio que culminou com os acontecimentos dramáticos de estudantes em Paris optamos por não permanecer em silêncio e decidimos falar para pôr fim às desigualdades sociais. Sim ao direito à educação, à interação cultural e a recepção daqueles que fogem da guerra e da pobreza.”

Fica evidente que na Italia, no Brasil ou em Júpiter, onde famílias sejam incapazes de arcar com os custos da educação e as escolas sejam mantidas em condições desastrosas, o abandono escolar precoce aumenta e os governantes maliciosamente se utilizam desse indicador para promover mais cortes, acentuando o processo de degradação. Um ciclo vicioso nefasto.

E as coincidências, infelizmente, não param por aí. Na escola de ensino médio Virgilio, em Roma, os estudantes estão com prazo para desocupá-la pois a reintegração já está pedida e a polícia poderá entrar a qualquer momento.

Os estudantes dizem que não farão resistência e sairão pacificamente. A afirmação certamente se dá porque o histórico da polícia italiana não é nada bom. Em Genova em 2001 policiais promoveram um massacre à meia-noite na escola A. Diaz ocupada por estudantes e ativistas por ocasião de uma reunião do G8. Deixou um saldo de 63 feridos, alguns com gravidade.

A tais gerações Y, Z, Millenium ou como queiram chamar, conhecidas por sua insubmissão e pressa, querem respostas mais eficazes e ligeiras para problemas ancestrais e que por muito tempo estiveram encobertos ou receberam coniventes incentivos para perpetuá-los. Os tempos mudaram.

Educação é a ‘commodity’ mais valorizada para as gerações atuais e muita gente ainda não está se dando conta disso.

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