Sintratel Cultural

Documentário da Netflix reabre caso de assassinato do líder negro e mostra racismo da investigação

"Quem Matou Malcolm X?" tem, ao menos, duas virtudes. A primeira é reabrir um caso de assassinato traumático ocorrido em 1965. A segunda, revelar às muitas pessoas que o desconhecem quem foi esse líder negro, suas origens, sua evolução e sua liderança.

Quem comanda a investigação é Abdur-Rahman Muhammad, ativista, seguidor e, sobretudo, admirador incondicional do líder. Sabemos que seu trabalho, que resultou no documentário dirigido por Phil Bartelsen e Rachel Dretzin, repercutiu o suficiente para que ao menos fosse anunciada a reabertura do caso.

Bem, a morte de Malcolm X não é o único mistério dos anos 1960 nos Estados Unidos --há desde John e Robert Kennedy a Martin Luther King a assombrar o imaginário americano dessa década. Mas o caso Malcolm X foi especial porque ele foi um personagem especial.

Jovem marginal, foi encontrado na prisão por Elijah Muhammad, líder dos muçulmanos negros. Malcolm não só se converte como se torna uma espécie de filho adotivo de Elijah, além de seu braço direito, graças à inteligência formidável e a uma rara capacidade de retórica.

Logo, porém, seu dom para a liderança motiva boatos de que ele poderia passar a perna em Elijah no movimento, o que ele sempre negou.

Para a versão dramatizada do caso, vale a pena ver o “Malcolm X” (de Spike Lee, com um formidável Denzel Washington.)

Mas o ambiente envenenado, mais a marcação da polícia sobre o movimento, além de divergências entre os líderes, acabam por arruinar as relações entre os dois. Para resumir, tudo isso culmina no atentado que matou Malcolm X.

Bem, o fato é que Abdur-Rahman nunca se conformou com o resultado das investigações levadas pela polícia de Nova York. Na ocasião, um dos três atiradores responsáveis pelo crime foi baleado e preso no ato. Os dois outros fugiram. A polícia e a promotoria arranjaram para que dois inocentes servissem como bodes expiatórios. Mesmo após o primeiro atirador, preso em flagrante, inocentá-los, nada foi feito.

É atrás dessas pistas que vai Abdur-Rahman. É claro, há aí o interesse de um caso policial. Mas não como os outros. Abdur-Rahman acumula pilhas de evidências de como as autoridades brancas queriam só dar uma resolução formal ao caso. A bem da verdade, a morte de Malcolm não lhes incomodou, enquanto, vivo, ele era um perigo.

Abdur-Rahman é obstinado. Aos poucos, sua investigação começa a aproximá-lo de possíveis assassinos que haviam fugido na época. Qual a ligação deles com o movimento de Elijah (sobretudo a igreja de Newark, ferozmente ortodoxa)? Qual o papel dos policiais (brancos) nessa trama?

Não se trata de uma investigação banal, e sim de remexer um caso que muita gente gostaria de ver esquecido para sempre. O valor dela (particular todo o tempo) é tão óbvio quanto o seu interesse.

Diga-se, por outro lado, que o relato da série poderia ser um tanto reduzido sem qualquer prejuízo para a compreensão dos fatos.

É como se houvesse o compromisso de entregar seis episódios à Netflix, quando quatro ou cinco poderiam ser tão esclarecedores e um pouco menos dispersivos. O que não torna sua visão menos relevante para a compreensão de um personagem e de um fato capitais para a compreensão da América e mesmo do mundo contemporâneo.

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