Arara-azul-pequena é uma das espécies em extinção. Foto: Pixabay

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O IBGE divulga hoje (24) a atualização dos dados sobre espécies ameaçadas de extinção, referente ao ano de 2022. As informações fazem parte da pesquisa “Contas de ecossistemas: espécies ameaçadas de extinção no Brasil”, divulgada pela primeira vez em 2020, com dados de 2014. A revisão tem como base as informações contidas na nova lista de espécies ameaçadas, publicada em dezembro de 2022 pelo então Ministério do Meio Ambiente, na Portaria GM/MMA nº 300. As listas são elaboradas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e pelo Centro Nacional de Conservação da Flora do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (CNCFlora/JBRJ).

 

De 2014 a 2022, o número de espécies avaliadas aumentou tanto na flora quanto na fauna. Atualmente, são reconhecidas no Brasil um total de 50.313 espécies de plantas e 125.251 espécies de animais. A quantidade de espécies avaliadas da flora saiu de 9% (4.304 espécies) para 15% (7.517 espécies) das espécies reconhecidas. Na fauna, o aumento foi menor: de 10% (12.009) para 11% (13.939).

Entre as espécies ameaçadas, isto é, as classificadas como “criticamente em perigo”, “em perigo” e “vulnerável”, de acordo com os critérios metodológicos preconizados pela International Union for Conservation of Nature (“União Internacional para a Conservação da Natureza”, da sigla em inglês IUCN), houve leves reduções na proporção tanto da flora (de 47,4% para 42,7%) quanto da fauna (de 9,8% para 9%), explicada em parte pelo aumento do número de espécies avaliadas em 2022.

O coordenador da pesquisa, Leonardo Bergamini, ressalta que, embora a proporção de espécies avaliadas ainda seja pequena em relação ao total de espécies reconhecidas, o esforço constante das instituições envolvidas tem resultado em avanços importantes para o conhecimento da biodiversidade brasileira, que podem nortear políticas de proteção adequadas ao meio ambiente. “Mas também ainda há muito o que avançar. Conforme o conhecimento vai se expandindo, é de se esperar que entrem na amostra mais espécies não-ameaçadas do que ameaçadas, já que as com potencialmente maior risco à extinção são avaliadas prioritariamente”, explica o pesquisador. “Por isso, não podemos afirmar que o nível de ameaça diminuiu”, afirma.

 

Mata Atlântica segue como bioma com mais espécies em risco

Quando se avalia as espécies ameaçadas a partir dos biomas brasileiros, Bergamini explica que todos tiveram aumento em números absolutos, com exceção do Pampa. De acordo com o estudo, a Mata Atlântica, assim como em 2014, segue com o maior número de espécies avaliadas (de 9.042 em 2014 para 11.811 em 2022) e, também, com a maior quantidade de espécies ameaçadas (de 2.016 para 2.845).

Além disso, também é o bioma com o maior número de espécies extintas: eram 7 em 2014, passando para 8 em 2022, com a inclusão da Perereca-gladiadora-de-sino (Boana cymbalum). Ela se junta a outras oito espécies da fauna nativa brasileira extintas nos diferentes biomas: as aves Maçarico-esquimó (Numenius borealis), Gritador-do-nordeste (Cichlocolaptes mazarbarnetti), Limpa-folha-do-nordeste (Philydor novaesi), Peito-vermelho-grande (Sturnella defilippii), Arara-azul-pequena (Anodorhynchus glaucus), e Caburé-de-pernambuco (Glaucidium mooreorum); o anfíbio Perereca-verde-de-fímbria (Phrynomedusa fimbriata); o mamífero Rato-de-Noronha (Noronhomys vespuccii), além da ave Mutum-do-Nordeste (Pauxi mitu), espécie extinta na natureza e que atualmente depende de programas de reprodução em cativeiro.

O pesquisador também explica que a Mata Atlântica registra perdas importantes na quantidade de área de cobertura natural ao longo dos séculos. “Isso deve-se a maior presença de ambientes antropizados, ou seja, onde houve ação humana, por conta do histórico de ocupação e urbanização, a partir do litoral, na formação do território brasileiro”, diz Bergamini.

A passagem de 2014 para 2022 também não alterou a situação do Cerrado, que ocupou o segundo lugar em número de espécies ameaçadas nos dois períodos pesquisados, passando de 1.037 para 1.199. Em seguida, a Caatinga, que passou de 395 para 481. A Amazônia passou de 311 em 2014 para 503 em 2022. Também o Sistema Costeiro-Marinho apresentou um acréscimo, de 166_ para _170. O Pampa mostrou redução, passando de 234 para 229. O Pantanal apesar do acréscimo de nove espécies ameaçadas (de 65 para 74) continua sendo o bioma com menor número absoluto de espécies ameaçadas, considerando o conjunto de espécies avaliadas.

“Esse número encontrado para o Pantanal também pode ser associado à maior preservação dos ecossistemas desse bioma, como mostrou o nosso estudo sobre o uso da terra nesse recorte ecológico, com uma análise elaborada entre os anos de 2000 e 2020. Essa é a porção do território com menor perda de áreas naturais no período”, complementa.

 

Avaliação das espécies é mais comum em ambiente terrestre

No que diz respeito aos ambientes, a maior parte das espécies avaliadas tanto para fauna quanto para flora são de ambiente terrestre. Houve aumento de 65% para 70%, de 2014 para 2022, evidenciando o aumento de conhecimento concentrando-se nesse tipo de ecossistema. Em seguida, organismos de ambientes de água doce, com redução de 39% para 37%; e, por fim, de ambiente marinho (de 16% para 15%).

Quando se cruza as espécies em ameaça de extinção entre biomas e ambientes, o padrão de 2014 se mantém em 2022, com quatro combinações se destacando com os maiores percentuais e trocando de posição no ranking. A flora terrestre da Mata Atlântica se manteve com 43% das espécies ameaçadas nos dois períodos, liderando a lista de bioma-ambiente com mais risco. Já a fauna terrestre do Sistema Costeiro-Marinho tinha 37% e passou ao segundo lugar com 38% das espécies ameaçadas em 2022. Trocou de lugar com a flora terrestre do Cerrado, que tinha 40% em 2014 e passou para 37% em 2022. Por fim, a flora marinha da Mata Atlântica, que subiu de 34% para 36% das espécies ameaçadas nos últimos oito anos. “Cabe ressaltar que é uma passagem de tempo relativamente pequena no contexto das transformações ocorridas nos ecossistemas do país”, finaliza Bergamini.

O estudo Contas de Espécies Ameaçadas faz parte das Contas Econômicas Ambientais do IBGE e representa mais uma etapa do projeto de incluir os indicadores ambientais do país nas Contas Nacionais.

 

Fonte: IBGE

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