Ney Matogrosso é um artista completo na essência da palavra e sua carreira é uma ode à ousadia, à liberdade e à arte como provocação.
Ver uma cinebiografia desse patrimônio cultural brasileiro tratada com tanto esmero é uma celebração à própria história da música e da contracultura no país. "Homem com H" não é apenas um retrato biográfico, mas uma reverência a um ícone que subverteu normas e transcendeu gêneros.
A atuação de Jesuíta Barbosa é contundente (ele não interpreta Ney, ele o incorpora). Seus trejeitos e maneirismos são entregues com precisão, sem cair na caricatura, e sua voracidade cênica nos conduz por uma jornada visual rica em estética e simbolismo.
Há uma fisicalidade quase performática em sua entrega, que remete à escola do teatro físico e aos experimentos do grupo "Dzi Croquettes", do qual Ney era contemporâneo e cuja influência é sentida em sua obra e na própria linguagem do filme.
O longa, dirigido por Esmir Filho, encontra um equilíbrio entre documentário e ficção. O próprio diretor comenta que Ney participou de diversas gravações, opinando sobre cenas e enriquecendo os bastidores com histórias de uma época em que a liberdade era um ato de resistência.
Nos anos de chumbo da ditadura militar, ser libertino, transgressor e abertamente sexual era, além de perigoso, um manifesto político. E Ney era isso: a vanguarda do desejo, da provocação e da arte.
Algumas passagens são de rara sensibilidade, e a cena de orgia, marcada por cortes abruptos e enquadramentos delicadamente desenhados, alcança um lirismo raro e pitoresco em uma sequência que celebra o corpo como linguagem, sem vulgaridade, que cativa até os mais moralistas, pela poesia que emana.
A trilha sonora é um espetáculo à parte e os figurinos, por sua vez, são um tributo à extravagância e a teatralidade que fizeram história no "Secos & Molhados" e em sua carreira solo.
Tudo isso é conduzido com o auxílio luxuoso de um ator que já havia impressionado em "Tatuagem" de 2013, filme que, aliás, tem parentesco temático com "Homem com H" ao abordar a arte como resistência política e sexual.
Ousaria afirmar que a performance de Jesuíta, em termos de caracterização e entrega nas dublagens, rivaliza com o trabalho premiado de Rami Malek como Freddie Mercury em 2019. Ambos interpretando artistas que desafiaram padrões com a música, a sensualidade e a coragem.
"Homem com H" é uma película que diz muito sobre questionar autoridades, mas sem perder a ternura jamais!
Ficha Técnica:
* Filme: Homem com H
* Ano: 2025
* Diretor: Esmir Filho
* Onde Assistir? Cinema