Filme Indiferença. Foto: repredução Netflix

Sintratel Cultural

O filme Indiferença (no original, Bhakshak), dirigido por Pulkit, em cartaz na Netflix, mostra toda a diferença que o trabalho de uma jornalista pode fazer na vida de meninas órfãs, maltratadas e abusadas sexualmente num orfanato. Importante porque, para o jornalismo servir ao seu propósito, é necessária uma boa dose de coragem, abnegação e senso de humanidade.

Como a repórter Vaishali Singh (Bhumi Pednekar) diz no filme, o Facebook, representando as redes sociais, desumaniza as pessoas, tira todo o sentimento de solidariedade e de indignação e naturaliza a violência, o ódio e a discriminação.

Baseada em fatos reais, a obra retrata os acontecimentos de um abrigo em Muzaffarpur, Bihar, na Índia, onde as meninas eram surradas, estupradas e até assassinadas, com a complacência do poder local e da polícia. Qualquer semelhança com o Brasil será mera coincidência?

A jornalista de um pequeno canal de YouTube recebe a denúncia da existência de um relatório sobre as violências nesse abrigo, ignorado pelas autoridades que deveriam investigar e punir os responsáveis.

Sem se preocupar com audiência, com likes e sem medo de enfrentar esses bandidos, a jornalista iniciou uma investigação e foi descobrindo os horrores vividos por essas crianças e adolescentes e o sentimento de impunidade dos algozes, que chegaram a ameaçá-la e até a zombar do seu trabalho investigativo.

Indiferença leva a profundas reflexões sobre a falta de sensibilidade vivida neste século 21, com ideologias de extrema-direita dominando cenários, zombando da vida, de sentimentos, das mulheres e de todos os vulneráveis, sem que o Estado assuma a responsabilidade de impedir horrores desse tipo.

E não é somente na Índia e nem em abrigos de crianças órfãs que essas coisas acontecem. Basta ver os altos índices de violência contra crianças e adolescentes, inclusive no Brasil, dentro dos chamados lares e em todos os lugares.

Isso ocorre porque a mídia corporativa difunde preconceitos e não divulga amplamente o Estatuto da Criança e do Adolescente real, e difunde ideias deturpadas sobre impunidade de pessoas com menos de 18 anos e deixa sem combate o ódio aos mais pobres.

Basta ver como a imprensa esportiva trata jogadores muito jovens, meninos de 16, 17, 18 e até de 20 e poucos anos. A imprensa os trata como meninos que, por estarem em formação, como todo adolescente, não têm a mesma condição que os atletas adultos e quando um menino se destaca é sempre apontado que é muito jovem.

Mas quando um menino de menos de 18 anos comete um delito, por menor que seja, a mídia, na sua visão, não esconde a sua vontade de ver esse “monstro” na cadeia, preso como qualquer adulto. Os mais exacerbados defendem a redução da maioridade penal apenas com o argumento da vingança e da punição.

É dessa indiferença que o filme indiano trata com muita habilidade, com uma direção dinâmica e um roteiro atraente. E mostra como a sociedade necessita de jornalistas que não sejam indiferentes à violência com que são tratadas as crianças e os adolescentes em muitos países.

 

Marcos Aurélio Ruy é jornalista

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