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Censura se impôs às atividades dos sambistas




Consideradas território de alegria, diversão e preservação cultural, as quadras das escolas de samba já foram locais de dor e sofrimento. Durante os anos do regime militar, algumas agremiações acabaram se transformando em espaços de resistência da cultura e das liberdades sociais para se contrapor às ações de agentes do governo federal.

A repressão e a censura se impuseram às atividades dos sambistas. Até aquele momento as batidas policiais que sofriam eram por discriminação porque os sambistas eram considerados uma categoria marginalizada da sociedade. Com a ditadura, a situação se agravou. Escolas como Vai-Vai, Camisa Verde e Branco e Unidos do Peruche, em São Paulo, e Império Serrano, no Rio de Janeiro, além de verem suas quadras invadidas, tiveram que buscar meios para manter seus enredos e as atividades em comunidade.

Aos 77 anos, o jornalista Fernando Penteado, atual diretor cultural da Vai-Vai, considerado um griô ou griot do samba, que na cultura africana é a pessoa que mantém viva a memória do grupo, contando as histórias e mitos daquele povo, lembrou que na década de 1960 o samba era meio marginalizado e não tinha a aceitação pública que tem atualmente. Mas, durante o regime militar a perseguição ficou maior, especialmente, contra compositores que eram mais de esquerda política. Segundo Penteado, o Bixiga, onde a escola foi fundada, era um bairro contestador, o que a tornou mais visada pela repressão.

“O samba na época era marginalizado, então, o ensaio, independentemente se era na época da ditadura ou não, quando a gente via uma viatura de polícia chegar no domingo à tarde ou em uma quinta-feira, sabíamos que eles iam reprimir”, contou à Agência Brasil, relatando ainda que, no fim da década de 1960, quando componentes da escola faziam um ensaio, em um domingo, em uma praça da região da Bela Vista, a polícia chegou com violência.

“Entraram para dentro, furaram os instrumentos. Isso era em um domingo. Na quinta-feira, nós estávamos lá de novo ensaiando com os instrumentos que eles furaram, e a gente encourou [botar peça de couro no instrumento] outra vez. Assim foi. Alguns compositores, que eram presos por causa de samba-enredo, eram presos de noite e soltos de dia e iam fazer samba outra vez. A contestação sempre houve”, disse.

De acordo com Penteado, outra forma de resistência foram os encontros de samba que algumas escolas começaram a realizar. O primeiro foi da Camisa Verde e Branco, que recebia estudantes de uma universidade próxima. “Eles não iam mais para os bares porque eram fechados e começaram a vir para o sambão. Aí foi criado o samba universitário.”

  “A nossa resistência [na escola Vai-Vai] era fazer o que não podia. Diziam ‘não pode ensaiar na Rua 13 de Maio', era lá que a gente ia ensaiar. Sabe aquele moleque malcriado, que na minha época, já estou com 77 anos, era buliçoso. Sempre tinha alguém para nos defender, principalmente jornalistas. A gente escrevia letras de enredos com outras palavras e aí passava [na censura]”, disse o diretor cultural.

Ainda conforme Penteado, quando a Vai-Vai se transformou de cordão carnavalesco para escola de samba, teve a integração do compositor Geraldo Filme, que era do Peruche. Ele, o jornalista Dalmo Pessoa e a escritora e artista plástica Raquel Trindade formaram o departamento cultural. “Pessoas da ultraesquerda formaram, aqui na Bela Vista, no Vai-Vai, o primeiro departamento cultural de uma escola de samba. Isso foi em 72, 73, dentro do regime militar. Eles começaram a fazer enredo no Vai-Vai com essa perspicácia de maquiar o enredo”, descreveu.

O compositor Cláudio André de Souza, do Peruche, contou que teve de passar por momentos de apreensão na infância. “Evitavam levar crianças nos ensaios justamente com receio desses enfrentamentos entre componentes e polícia. A gente ia a ensaios à tarde, mas tinha um distanciamento com as crianças. Quando a gente dizia que queria ir à escola diziam ‘sozinho você não vai'. "Mas porquê?' 'Porque tem muita briga e polícia’. Foi dessa forma que a gente acompanhou quando criança”, recordou.
São Paulo (SP), 21/03/2024 - O compositor Cláudio André de Souza, diretor do Grêmio Recreativo Cultural Social Escola de Samba Unidos do Peruche, na quadra da escola de samba. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Cláudio André, diretor do Peruche, diz que compositores foram reprimidos pelo regime militar - Rovena Rosa/Agência Brasil

Em 1972, a escola escolheu o enredo Chamada aos Heróis da Independência, de autoria de Geraldo Filme, e teve que passar pelo crivo da censura. “O seu Carlão era presidente na época, fizemos o enredo que foi um sucesso na avenida no carnaval, e os dois foram convidados entre aspas a comparecerem ao Dops [Departamento de Ordem Política e Social] para explicarem o enredo que eles achavam subversivo e que o Peruche estava incitando o povo a se rebelar contra o regime. Ficaram uns dias lá respondendo perguntas. Não falaram que estavam presos, mas para averiguações”, relatou o compositor.

“Os compositores foram reprimidos e tiveram que ficar um tempo afastados do Unidos do Peruche porque não podiam mais fazer samba, não podiam escrever”, apontou.

Simone Tobias, neta de Inocêncio Tobias, um dos fundadores da Camisa Verde e Branco, e filha de Carlos Alberto Tobias, que foi presidente da escola, lembrou o que passou. “Eu era criança, mas lembro de pararem ensaio, furarem instrumentos e nem tinha um volume grande de gente como hoje tem. Para eles, independia se tinha criança, mulher, idoso, eles chegavam com truculência e desciam pauladas. Era uma época muito tensa. Tenho na memória as cenas”, relatou à reportagem.

    “A gente tinha que fazer o desenvolvimento do tema, do enredo, das alegorias, e aí era submetido a um auditor fiscal. Se eles achassem que tinham alguma coisa que não estava a contento, que não fosse a favor do governo e fosse algum protesto, não podia e tinha que mudar”, acrescentou.

Simone contou que,  embora em 1982 a perseguição aos temas da escola tenha começado a ficar menos intensa, os compositores ainda precisaram fazer mudanças na letra do enredo daquele ano, Negros Maravilhosos, Mutuo Mundo Kitoko. As alterações, no entanto, não foram seguidas na avenida, e os componentes cantaram o samba original.

“Óbvio que nós não ganhamos o carnaval. Meu pai acabou tomando uns petelecos. Acho que foi a primeira grande guinada para que a gente pudesse expressar realmente. Não era só o Camisa, eram todas as escolas. A gente não podia falar de temas que eles achassem polêmicos”, relatou Simone.

“Foi um período bem difícil. Para quem viveu aquilo à flor da pele e quando se fala ‘temos que voltar com a ditadura’, chega a arrepiar a alma. As pessoas realmente não têm noção do que uma ditadura é capaz de fazer”, apontou Simone, lembrando que a Nenê da Vila Matilde também foi uma escola de samba de resistência durante o regime militar.
Carnaval carioca

No Rio de Janeiro, em plena vigência do Ato Institucional nº 5 (AI-5), o Império Serrano escolheu um tema que se contrapunha à ditadura. Em 1969, desfilou com o enredo Heróis da Liberdade, composto por Silas de Oliveira, Mano Décio e Manoel Ferreira, que defendia a liberdade por meio de manifestações populares. Por isso, teve que se explicar aos agentes da censura, e os compositores tiveram que alterar a letra do samba.

“Houve, sim, repressão aos compositores do Império Serrano. Eles sofreram perseguição e proibições do regime muito mais por uma atitude focada nesta resistência individualizada do que um processo mais organizado de repressão à escola como um todo”, contou à Agência Brasil o jornalista e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) Chico Otávio.

O professor de história Leandro Silveira, mestre pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e doutorando pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), lembrou que, antes de ser enredo do campeonato da Mangueira em 1998, o cantor e compositor Chico Buarque tinha sido escolhido para tema da escola Canarinhos da Engenhoca, de Niterói, na região metropolitana do Rio. A presença do homenageado causou confusão com a presença da polícia. Hoje a escola não existe mais.

“Ele [Chico Buarque] veio, e a polícia foi atrás. Foi uma coisa bem tensa”, revelou Silveira, um dos autores do livro Antigamente É que Era Bom: a Folia Niteroiense entre 1900-1986.

O professor destacou que, durante o regime militar, as escolas de Niterói precisavam negociar com os agentes até os locais de ensaio. “Escola de samba ensaiar nos grandes clubes aqui em Niterói, só se tivesse alguém que fizesse uma ponte com o censor. Elas conseguiam driblar um pouco a censura nos bairros, porque a censura não costumava entrar na favela para reprimir”, relatou.

Outra repressão lembrada por Leandro Silveira nas escolas das duas cidades tinha como alvo o material de desfiles. “Muitos croquis e desenhos de fantasias eram literalmente proibidos, censurados e tinham que fazer de novo. O que eu vejo tanto para Niterói, quanto para o Rio, é que as escolas quando foram reprimidas tiveram que desfocar as temáticas. Tem um período em que a repressão foi maior de 69 a 76 e os enredos não versam muito sobre nada progressista”, apontou o historiador, acrescentando que “o Império Serrano nunca perdeu a marca da resistência”.
Escolas de samba foram espaço de resistência à repressão da ditadura. - Escola de Samba Em Cima da Hora - Os Sertões. Foto: Cola na História
Escola Em Cima da Hora levou para a avenida no carnaval de 1976 o samba-enredo Os Sertões - Cola na História

Além do Império Serrano, Silveira lembrou que a escola de samba Em Cima da Hora montou em 1976 o enredo Os Sertões, composto por Edeor de Paula. Inspirado no clássico do escritor Euclides da Cunha, o samba destacou as dificuldades enfrentadas pelo povo no Nordeste: “O Homem revoltado com a sorte/ do mundo em que vivia/ Ocultou-se no sertão espalhando a rebeldia/ Se revoltando contra a lei/ Que a sociedade oferecia.”

“São dois momentos em que a temática é mais progressista, as escolhas conseguem furar um pouco essa bolha, porque no Rio e em Niterói tem muito enredo falando de ufanismo, de Brasil, do futuro ou de folclore”, disse Silveira, destacando que as agremiações só retomaram os enredos mais progressistas depois da abertura do regime no governo do general João Figueiredo.

“Gradativamente vai aparecer a crítica social e aí vai ter a Caprichosos de Pilares e Cabuçu, no Rio, e, em Niterói, a Souza Soares, do bairro de Santa Rosa. A escola União da Ilha da Conceição, já extinta hoje, na virada da abertura ganhou um carnaval com um enredo sobre favela e critica tudo, inclusive a censura. Aí já em 85”, comentou o historiador.

“As escolas eram vigiadas. Quem tinha mais garrafas para vender [em Niterói] eram Cubango e Viradouro porque de certa forma tinham um trânsito maior com essa estrutura de poder”, disse ele.
Ufanismo

Ao mesmo tempo em que algumas escolas enfrentavam a repressão e a censura, outras no Rio faziam enredos ufanistas e de apoio ao governo militar. Uma delas foi a Beija-Flor de Nilópolis que levou para a avenida enredos como O Grande Decênio, de 1975, no qual reverenciava programas sociais do governo militar como o Programa de Integração Social (PIS), o Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (Pasep), o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural) e o Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral).

“Ela comemorou o Grande Decênio na avenida, os dez anos do golpe”, pontuou Silveira, indicando que a Azul e Branco de Nilópolis ainda fez os enredos ufanistas Educação para o Desenvolvimento e Brasil Ano 2000, como a nação do futuro. “O samba dizia o ‘Funrural que ampara o homem do campo com segurança total’, quer dizer a ideia de que o homem do campo está bem com o governo. O interessante é que, no ano seguinte, a Em Cima da Hora consegue burlar e faz uma denúncia, via Os Sertões”, observou Silveira.
Trocas de interesses

A aproximação das escolas com o regime militar, segundo o professor Chico Otávio, era de interesse das duas partes. O governo buscava mais apoio popular, e as agremiações que tinham como patronos contraventores do jogo do bicho queriam evitar a identificação com o crime e possíveis prisões.

“O regime, no momento em que já começava a entrar em declínio, precisava da popularidade das escolas de samba para se reafirmar junto à população. Então, foi uma espécie de troca de interesses. Eu não te incomodo e você me deixa pegar carona no prestígio e popularidade das escolas de samba na avenida”, disse Chico Otávio, autor do livro Os Porões da Contravenção Jogo do Bicho e Ditadura Militar: a História da Aliança que Profissionalizou o Crime Organizado.

A ramificação do jogo do bicho na cidade favorecia o “trabalho” extenso que colaborava com a repressão. “Eles ajudavam, contribuíam com informações para que a ditadura pudesse prender subversivos. Os bicheiros de certa forma contribuíram para isso. Tinham muita presença nas ruas e formaram uma rede de espiões para abastecer a ditadura de informações a respeito dos inimigos do sistema”, completou Chico Otávio.

Para o professor, mais uma ligação de militares e contravenção ocorreu quando o governo Ernesto Geisel começou a abertura política para encerrar o regime militar. Naquele momento, agentes da repressão que não concordaram com esse processo se aliaram aos bicheiros do jogo do bicho. “À contravenção interessava ter gente que tinha essa expertise de torturar, matar, espionar, então foi um bom negócio para ambas as partes. Os agentes militares que encontraram essa acolhida e continuaram a ter poder, via bicheiros, eram seguranças de bicheiros ou muito mais que isso, viraram capos também”, afirmou o professor da PUC-Rio.

Em 1971, bem diferente da linha de enredos que vinha apresentando, a Mangueira levou para a avenida Modernos Bandeirantes, uma homenagem à Aeronáutica Brasileira.

“As escolas fizeram isso espontaneamente. Eles foram colaboradores do regime sem precisar sofrer qualquer pressão para isso. Fizeram de bom grado. Tinham interesses estratégicos de agradar o regime. Os bicheiros estavam no processo de legitimação da sua atividade criminosa junto à população através do carnaval”, concluiu Chico Otávio.


Fonte: Agência Brasil

Em uma sociedade cada vez mais consciente das questões de saúde e segurança no ambiente laboral, o Sintratel (Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Telemarketing) abraça a causa do movimento Abril Verde. Este movimento, originário do Brasil, visa sensibilizar a população sobre a prevenção de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais, escolhendo o mês de abril para suas ações em homenagem ao Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidentes de Trabalho, celebrado no dia 28.
Durante o Abril Verde, o Sintratel, juntamente com outras entidades, promove uma série ações para  reforça a necessidade de uma cultura de prevenção, destacando o papel fundamental que cada trabalhador e representante empresarial desempenha na construção de um ambiente de trabalho seguro.
A colaboração entre a CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) e a SIPAT (Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho) é destacada como essencial para o sucesso do Abril Verde. A sinergia entre essas duas entidades pode ampliar o alcance e o impacto das ações de conscientização. Por exemplo, inspeções realizadas pela CIPA durante a semana da SIPAT podem envolver ativamente os colaboradores na identificação de riscos e na implementação de medidas corretivas.
Além disso, o apoio da CIPA no oferecimento de palestras e treinamentos específicos durante a SIPAT aproveita a expertise acumulada, promovendo uma verdadeira troca de saberes entre os representantes dos trabalhadores e da empresa.
Assim, a parceria entre CIPA e SIPAT, com o apoio de sindicatos como o Sintratel, potencializa a conscientização e a promoção da saúde e segurança no trabalho, fazendo do Abril Verde um marco na luta por um ambiente laboral mais seguro e saudável para todos.

Há seis décadas, o Brasil vivenciou um dos momentos mais sombrios de sua história: o golpe de 1964, que instaurou um regime ditatorial que durou até 1985. Esse período de repressão, censura e violação de direitos humanos marcou profundamente a sociedade brasileira, incitando uma luta contínua pela liberdade e pela democracia.
Apesar das adversidades, a resistência dos brasileiros se fez notar em diversos setores, especialmente no âmbito trabalhista, onde sindicatos e trabalhadores organizaram movimentos que foram cruciais para a redemocratização do país.
A luta trabalhista contra o regime ditatorial foi marcada por greves e manifestações que desafiaram as proibições e a repressão impostas pelos governos militares. Sindicatos, muitas vezes operando na clandestinidade, foram peças-chave na organização desses movimentos, demonstrando a força e a resiliência dos trabalhadores brasileiros.
Essa mobilização não apenas reivindicava direitos trabalhistas que haviam sido suprimidos, mas também clamava por liberdade e pelo fim da ditadura, contribuindo significativamente para o processo de redemocratização.
Hoje, ao refletirmos sobre os 60 anos do golpe militar, é imperativo reconhecer a importância da democracia, apesar de suas imperfeições. A história ensina que a luta por um regime democrático é constante e requer a participação ativa de todos os setores da sociedade.
Os desafios enfrentados pelos brasileiros durante a ditadura reforçam a noção de que a democracia, com todas as suas falhas, ainda é o melhor regime para garantir a liberdade e os direitos dos cidadãos.
O legado da resistência contra a ditadura nos lembra da necessidade de valorizar e defender a democracia, assegurando que as sombras do passado não se repitam no futuro.



Marco Aurélio Oliveira - Presidente do Sintratel

Neste 1º de abril de 2024, o golpe militar de 1964, que impôs ao Brasil um dos períodos mais sombrios de sua história, completa 60 anos. A data deu início à censura, perseguição, violência, tortura e assassinatos de trabalhadores e trabalhadoras. Além de atrasos, corrupção e dívidas externas ao país.
Muitos deles ainda estão desaparecidos até hoje. Nesse período, alguns sindicatos sofreram intervenções em suas direções, quando passaram a ter no comando pelegos indicados pelos militares e que começaram a cumprir uma agenda mais assistencialista. Mesmo assim, o movimento sindical foi fundamental na luta contra a ditadura, denunciando e resistindo às atrocidades. A CUT surge como um dos pilares da luta pela democracia e nos dias de hoje, diante de tantas ameaças, reforça esse compromisso.

Registros sobem 19,8% em relação a 2021 e representam 1,1% do total

 

O número de casamentos entre pessoas do mesmo sexo realizados em cartórios de registro civil em 2022 cresceu 19,8% em relação a 2021. Com 11 mil registros, esse foi o número mais alto desde 2013, quando o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) impediu que cartórios se recusassem a celebrar esse tipo de união.

Os dados são das Estatísticas do Registro Civil, divulgadas nesta quarta-feira (27), no Rio de Janeiro, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A maioria dos casamentos de pessoas do mesmo sexo ocorreu entre cônjuges femininos (60,2%).

Apesar do crescimento, o casamento civil de pessoas do mesmo sexo representou apenas 1,1% do total de 970 mil dos casamentos anotados no país em 2022, um aumento de 4% em relação a 2021.

O número total de casamentos no país apresentou tendência de queda de 2015 a 2020, com a menor quantidade de registros em 2020, devido à pandemia de covid-19. Mas, mesmo com os crescimentos em 2021 e 2022, a pesquisadora do IBGE Klívia Brayner ressalta que os números ainda não superaram a média dos cinco anos antes da pandemia (2015 a 2019). 

"No período anterior à pandemia, a gente tinha uma média de mais de 1 milhão de casamentos. Em 2022, a gente não conseguiu atingir esse número", afirma Klívia.

O IBGE também percebeu que tem havido aumento na idade dos cônjuges. Em 2000, apenas 6,3% das mulheres que se casaram tinham 40 anos ou mais, percentual que passou para 24,1% em 2022. Entre os homens, o número subiu de 10,2% para 30,4% no mesmo período. 

"As mulheres estão casando [com idade] em torno de 29 anos e os homens, em torno de 31. E os casamentos em que um dos cônjuges é divorciado ou viúvo já representam 30% dos casamentos civis realizados", destaca a pesquisadora.

 

Divórcios

Foram contabilizados, em 2022, 420 mil divórcios concedidos em primeira instância ou realizados por escrituras extrajudiciais, ou seja, 8,6% a mais do que em 2021 (386,8 mil). Em média, os homens se divorciaram em idades mais avançadas (44 anos) que as mulheres (41).

"Os casamentos dissolvidos com menos de dez anos de duração são 49%. O tempo médio de duração dos casamentos ficou em torno de 13 anos", acentua Klívia. Em 2016, a média de duração era de 16 anos.

Os divórcios judiciais concedidos em primeira instância responderam por 81,1% dos divórcios do país em 2022. A maior proporção desse tipo de dissolução do casamento, em 2022, ocorreu entre as famílias constituídas somente com filhos com menos de 18 anos (47%).

Desde 2014, por conta de mudanças na legislação, a guarda compartilhada tem crescido como opção para a responsabilidade dos pais divorciados em relação aos filhos menores de idade. Em 2014, essa alternativa respondia por apenas 7,5% dos casos. Em 2022, passou para 37,8% do total.

As mulheres continuam sendo as principais responsáveis pela guarda dos filhos menores, mas em proporção cada vez menor. Eram 85,1% em 2014 e passaram a ser 50,3%.

Os homens como responsáveis dos filhos no pós-divórcio eram 5,5% em 2014, percentual que caiu para 3,3% em 2022.

 

Fonte: Agência Brasil

Os cinco maiores setores da economia registraram saldo positivo

 

O Brasil fechou o mês de fevereiro com saldo positivo de 306.111 empregos com carteira assinada, resultado de 2.249.070 admissões e de 1.942.959 desligamentos. O balanço é do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged) divulgado nesta quarta-feira (27) pelo Ministério do Trabalho e Emprego.

Os cinco grandes setores da economia registraram saldo positivo em fevereiro. Serviços lidera com 193.127 novos postos de trabalho; seguido pela indústria, 54.448 postos; construção, 35.053 postos; comércio. 19.724 postos; e agropecuária que fechou o mês com saldo de 3.759 postos de trabalho.  

No mês passado, 24 unidades da Federação registraram saldos positivos de postos de trabalho. Os estados com maior saldo foram São Paulo (101.163 postos), Minas Gerais (35.980 postos) e Paraná (33.043 postos). Os estados com saldo negativo foram Alagoas (-2.886); Maranhão (-1.220) e Paraíba (-9 postos).

O salário médio de admissão em fevereiro/2024 foi R$ 2.082,79. Comparado ao mês anterior, houve redução real de R$ 50,42 no salário médio de admissão, uma variação negativa de menos 2,36%. 

 

Acumulado do ano

No acumulado do ano (janeiro/2024 a fevereiro/2024), o saldo de empregos foi positivo em 474.614 empregos, resultado de 4.342.227 admissões e 3.867.613 desligamentos.

Nos últimos 12 meses (março/2023 a fevereiro/2024), foi registrado saldo positivo de 1.602.965 empregos, decorrente de 23.714.985 admissões e de 22.112.020 desligamentos.

 

Expectativa

O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, disse que os números de fevereiro superaram a expectativa do governo. “Esperamos que março venha reforçar ainda mais a tendência do que pode acontecer neste ano”, disse.

Segundo ele, o governo estima que em 2024 a economia crescerá mais do que no ano passado, resultando em uma maior geração de empregos. “No ano passado, geramos da ordem de 1,5 milhão e este ano é plenamente possível gerar mais que isso. Esperamos que gere o máximo possível dentro da realidade econômica do país”, avaliou Marinho, estimando que o país pode chegar ao fim de 2024 com mais de 2 milhões de empregos gerados. O número era esperado também no ano passado, mas não foi alcançado.

O ministro aproveitou para chamar a atenção do Banco Central para a necessidade de continuar reduzindo a taxa básica de juros no Brasil. “Planejar a continuidade da redução de juros, para que a economia continue crescendo. Se a política de redução de juros tivesse começado antes e tivesse sido mais agressiva, poderíamos ter chegado a mais de 2 milhões de empregos gerados, portanto, tem a responsabilidade de ter evitado gerar de 400 a 500 mil empregos, pela política irresponsável de juros altos.”

 

Fonte: Agência Brasil

ROBERTO PARIZOTTI (SAPÃO)

Sindicalistas de diversos países e representantes do governo brasileiro debateram a construção de um modelo de planeta mais sustentável com igualdade e justiça social para os trabalhadores e trabalhadoras

 

Para construir um mundo justo e um planeta sustentável, onde a igualdade e a justiça social ocupem um lugar primordial é necessário uma nova forma de relação entre a sociedade e o Estado, baseado no diálogo social, que seja institucional e que inclua demandas fundamentais para a classe trabalhadora como empregos decentes, transição justa, proteção trabalhista e social universal, igualdade e inclusão.

É preciso um novo ‘contrato social’. Isto é o que defenderam os representantes da CUT, centrais sindicais brasileiras e do exterior, no debate “Construindo um mundo justo e um planeta sustentável através de um novo Contrato Social”, do Labour 20 (L20), realizado nesta terça-feira (26), na sede da CUT Nacional, em São Paulo (SP).

O grupo L20 representa os interesses da classe trabalhadora reunindo sindicatos globais que tem a missão de debater temas econômicos mundiais e direitos, sob a ótica dos trabalhadores. É responsável por apresentar e defender as preocupações relacionadas a emprego, direitos trabalhistas e às condições laborais justas nas discussões do G20.

Os participantes também ressaltaram a importância de se colocar na pauta trabalhista a defesa da democracia, formas de combater o avanço da extrema direita, a economia solidária, a igualdade salarial entre homens e mulheres, a inclusão da população trans no mundo do trabalho, o avanço da tecnologia, a transição justa, entre outras preocupações que impactam diretamente na vida do trabalhador e da trabalhadora de todo o mundo. 

Representando a CUT Nacional, o secretário de Relações Internacionais, Antonio Lisboa, reafirmou o compromisso do movimento sindical brasileiro e internacional na defesa dos direitos dos trabalhadores, junto ao G20.

“Nós precisamos saber utilizar a similaridade da agenda do mundo do trabalho, dos trabalhadores e trabalhadoras, com a agenda que o governo brasileiro estabeleceu para o G20, que são redução das desigualdades, a aliança global pela contra a fome, a transição é justa têm tudo a ver com nossa agenda, e temos que pensar uma transição que efetivamente seja justa para que a parcela mais importante, que são os trabalhadores do mundo, não seja imposta os impactos de uma transição energética, ou mesmo da transição digital”. Lisboa destacou ainda estar otimista em aprovar uma declaração que dê seguimento aos debates do G20, que o mundo tanto necessita nesse momento.

“Uma outra questão fundamental, além de os temas levantados aqui temos de olhar para os povos dos países além do G20, que reúne as 20 economias maiores do mundo porque sobre o nosso trabalho geram diretamente impactos na economia desses países. Portanto, o G20 não pode, a partir da nossa análise, não pode olhar apenas para internamente. Vai ter que saber quais são os impactos e quais são as possibilidades que a gente pode construir para gerar uma vida melhor e gerar um mundo mais justo diante das últimas crises que a gente vive no planeta”, afirmou Lisboa.

O ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, que também participou online, destacou os avanços do governo Lula em relação à renda dos trabalhadores e à proteção da igualdade do mercado de trabalho, que segundo ele, nunca foi prejudicial à economia.

“Só temos a ganhar quando o governo, os empregadores se unem para investir nos trabalhadores e trabalhadoras, além de investir em educação e capacitação, no sistema de proteção social, na garantia de respeito pelos direitos humanos, trabalhistas em todas as etapas da cadeia produtiva. Como o governo voltado às pessoas, especialmente aquelas que mais precisam, temos o dever e a responsabilidade de lutar pelo futuro melhor para todos”, afirmou Marinho, ao ressaltar a importância do L20.

Convidado a falar, por meio de plataforma virtual, o embaixador Maurício Carvalho Lyrio, responsável pelo governo brasileiro da organização do G20, destacou que o presidente Lula abriu espaço para que as entidades sindicais possam contribuir com sugestões e propostas que poderão estar no documento final do G20.

“É lógico que não é um processo automático, nós somos 21 membros do G20 negociando o texto, são posições diferentes, muito diversas, portanto, nada é automático, tudo é negociado, e naturalmente, as contribuições do L20 são absolutamente cruciais”, disse o embaixador.

Lyrio ainda listou prioridades do Brasil enquanto ocupa a presidência do Grupo:  a questão da transição energética e da mobilização de recursos para o combate à mudança do clima, que, segundo ele, há uma concentração exagerada de recursos em países ricos, dificultando os países em desenvolvimento a ter acesso a recursos para fazer sua transição energética, no sentido da sustentabilidade plena, que é também social; o lançamento de uma aliança global contra a fome e a pobreza e uma reforma da governança global.

“Nós tivemos no ano passado um recorde de conflitos no mundo nos últimos 30 anos, foram 183 conflitos e a tendência é uma concentração de recursos, esforços e vontade política. E isso, eu diria, desvia todo esse capital financeiro e político para conflitos, inclusive no sentido negativo de armar as partes e acaba privando os objetivos que nós temos”.

O secretário-Geral da CSI Luc Triangle, deu boas-vindas às prioridades brasileiras nos debates do G20 e que a presidência do Grupo, sendo ocupada pelo país, acontece num momento em que o mundo precisa de uma forte liderança porque enfrenta conflitos geopolíticos que tem um aumento grande no custo de vida para bilhões de pessoas e também com a crise climática.

“Essas prioridades estão totalmente em linha com os debates da CSI para as novas concorrências sociais, que devem entregar essa transição climática com as proteções trabalhistas com renda mínima, e também com a proteção social universal, igualdade e inclusão”, afirmou.

Representando Marcio Costa Macedo, Ministro de Estado Chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, encarregado de coordenar o G20 Social, Renato Simões, Secretário de Participação Social da Pasta, falou sobre as prioridades do G20 social e da Presidência da República.

“O presidente Lula, evidentemente, acompanha com muito interesse e a Secretaria- geral reafirma para vocês a importância do L20 nesse contexto, não só porque o presidente tem uma relação umbilical com a luta sindical, mas também em reconhecimento ao importante papel que as centrais sindicais brasileiras e o movimento sindical internacional tiveram na resistência democrática às graves crises que nós passamos desde o golpe parlamentar de 2015”, declarou.

Ao concluir os trabalhos, Veronica Nilsson, Secretária Geral do “The Trade Union Advisory Committee” (TUAC), o comitê sindical da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), lembrou que no ano passado o processo do G20 foi muito desafiador e, que por isso, este ano o Brasil estar na presidência do Grupo e ter um presidente (Lula), aliado dos trabalhadores, significa avanços.

“Queremos trabalhar com vocês para garantir que a presidência brasileira seja positiva para os trabalhadores. Acho que a discussão de hoje já mostrou que muitas das prioridades sindicais nossas estão aliadas com vocês e com o presidente do Brasil, e isso nem sempre é assim. Neste ano temos um espírito de diálogo de transparência, de inclusividade. Eu acho que vai ter algumas barreiras, temos eleições a caminho, nem todos os governos são amigos do movimento sindical, então por isso que eu estou insistindo nessa questão de aproveitar a oportunidade que temos esse ano com a presidência atual”, disse.

"Juntos podemos fazer a diferença e criar um mundo onde o trabalho seja valorizado, respeitado e digno para todos", disse Veronica Nilsson.

 

Convidados

Contribuíram também com os debates Maira Lacerda, Chefe da Assessoria Internacional do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE); Ricardo Patah (UGT), Denilson Pestana (NCSB), Miguel Torres (Força Sindical), além do Secretário de Economia Solidária da CUT Nacional, Admirson Medeiros Ferro Jr, o Greg, e outros sindicalistas do exterior: Argentina, Coréia do Sul e Indonésia, entre outros países.

Para ler a íntegra da Declaração do L20 ao G20, 2024 (em espanhol), clique aqui.

 

O G20

O Grupo dos 20, é um fórum de cooperação econômica internacional criado em 1999 , que tem como objetivo o fortalecimento da economia internacional e a discussão de temas fundamentais para o desenvolvimento socioeconômico global.

O G20 é composto por Brasil, África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia, além dos blocos União Africana e União Europeia. Juntas,as nações representam cerca de 85% do PIB mundial, 75% do comércio internacional e dois terços da população do planeta.

 

Fonte:CUT

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